Etanol de milho: oportunidades, desafios e o futuro do biocombustível no Brasil

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Escrito por Equipe TOTVS
Última atualização em 14 November, 2025

O etanol de milho vem ganhando força no Brasil e se consolidando como uma das principais apostas do agronegócio e da transição energética. 

Ainda recente em comparação ao etanol de cana-de-açúcar, o produto se tornou símbolo de inovação e de aproveitamento inteligente das safras agrícolas. 

O que antes era um subproduto com destino incerto passou a ser o centro de um novo ciclo econômico, capaz de movimentar bilhões e gerar empregos em regiões estratégicas do país.

Mas, afinal, o que é o etanol de milho, por que cresce tão rápido e quais impactos traz à economia, ao meio ambiente e ao setor agropecuário?

O que é o etanol de milho

O etanol de milho é um biocombustível produzido a partir da fermentação do amido presente nos grãos. O processo começa com a moagem do milho, seguida pela transformação do amido em açúcares e posterior fermentação alcoólica. Depois disso, o álcool é destilado e purificado para se tornar combustível.

Na prática, o produto atua como alternativa energética limpa, substituindo parte da gasolina e contribuindo para reduzir as emissões de carbono. 

O Brasil, tradicionalmente conhecido por seu etanol de cana, passou a adotar o milho como uma segunda via de produção, especialmente na região Centro-Oeste, onde a oferta de grãos é abundante.

Essa mudança representa uma resposta à busca por fontes energéticas diversificadas e por maior equilíbrio entre agricultura e indústria.

O crescimento do mercado e o novo papel do milho

Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a participação do etanol de milho na produção total de biocombustíveis brasileiros vem crescendo a taxas superiores a 30% ao ano desde 2020 (EPE, 2023). 

O avanço é impressionante e reflete tanto a maturação do setor quanto a forte demanda por energia renovável.

A região Centro-Oeste, sobretudo Mato Grosso e Goiás, tornou-se o epicentro desse movimento. A presença de grandes áreas agrícolas e o acesso a infraestrutura logística consolidaram o milho como matéria-prima viável e competitiva. 

Além disso, o modelo de integração entre agricultura e indústria (com as chamadas usinas “flex”, que processam tanto cana quanto milho) ampliou a flexibilidade da produção.

O contexto internacional também impulsiona o mercado. Países que buscam reduzir a dependência de petróleo olham para o etanol como caminho viável de descarbonização, e o milho brasileiro se insere nesse cenário como produto de alta eficiência agrícola e baixo custo relativo.

Vantagens do etanol de milho

As vantagens vão muito além do campo energético. Elas atingem diretamente o produtor rural, as indústrias e até o consumidor final.

1. Diversificação da matriz energética

O etanol de milho contribui para reduzir a dependência do país em relação à cana-de-açúcar e aos combustíveis fósseis. Essa diversificação é estratégica, pois garante estabilidade em períodos de seca, flutuação de preços ou crises internacionais.

De acordo com o relatório da EPE, a expansão do etanol de milho é uma das principais responsáveis por tornar o sistema energético brasileiro mais resiliente e menos vulnerável a choques externos.

2. Valorização da safrinha

A segunda safra de milho, conhecida como safrinha, tornou-se protagonista no abastecimento das usinas. O que antes era vendido majoritariamente para exportação ou ração animal agora encontra uma nova demanda no setor energético.

Essa mudança valorizou o milho nacional e ampliou a rentabilidade do produtor. Uma pesquisa do Insper/AgroInData mostra que a integração entre produção agrícola e indústria de etanol aumentou a renda média de famílias em regiões produtoras e fortaleceu economias locais.

3. Geração de empregos e renda

A instalação de novas usinas movimenta o setor de transporte, armazenamento, serviços e tecnologia. Cada planta industrial de etanol de milho gera centenas de empregos diretos e indiretos, o que fortalece o interior do país e estimula o desenvolvimento regional.

Além do combustível, há subprodutos valiosos como o DDG (dried distillers grains), um tipo de ração rica em proteína que tem alto valor no mercado pecuário. Isso cria um ciclo econômico virtuoso, em que praticamente nada se perde.

4. Benefícios ambientais

Em boas condições de manejo, o etanol de milho apresenta emissão de gases de efeito estufa até 70% menor do que a gasolina. Quando comparado ao etanol de cana, sua pegada de carbono tende a ser um pouco maior, mas ainda assim significativamente mais limpa do que os combustíveis fósseis.

Além disso, o uso do milho da safrinha, cultivado em áreas já abertas e sem desmatamento adicional, torna o produto ambientalmente mais seguro. 

A combinação entre eficiência energética e reaproveitamento de áreas agrícolas já consolidadas reduz o impacto ambiental e fortalece o discurso de sustentabilidade.

Desvantagens e limitações

Apesar do otimismo, o etanol de milho enfrenta obstáculos técnicos, econômicos e ambientais.

1. Eficiência energética menor

O rendimento energético do milho é inferior ao da cana-de-açúcar. Para produzir o mesmo volume de etanol, é preciso mais energia, insumos e etapas industriais. Essa diferença impacta o custo final e a competitividade, especialmente em regiões com acesso limitado à infraestrutura.

2. Competição com alimentos

O debate sobre “comida versus combustível” ainda ronda o etanol de milho. Em um cenário de alta demanda por grãos, o uso de milho para energia pode pressionar o preço dos alimentos e afetar a oferta de ração animal. 

Embora estudos recentes (como o Insper) indiquem que, no Brasil, o etanol de milho não ameaça a segurança alimentar, esse equilíbrio depende de políticas de produção bem desenhadas e de controle sobre o uso do solo.

3. Dependência logística e industrial

A distância entre lavoura e usina ainda é um gargalo. Em regiões sem infraestrutura adequada, os custos de transporte podem inviabilizar a operação. Além disso, o modelo industrial exige grande investimento inicial e gestão eficiente, o que nem sempre é viável para pequenos produtores.

4. Sustentabilidade condicionada

A vantagem ambiental do etanol de milho depende fortemente das práticas agrícolas adotadas. O uso intensivo de fertilizantes e defensivos pode gerar emissões indiretas de carbono e degradação do solo. O desafio está em equilibrar produtividade com conservação ambiental, algo que ainda demanda padronização e certificações mais rígidas.

Oportunidades para o setor agropecuário

O avanço do etanol de milho traz uma série de oportunidades para o agronegócio. Ele redefine o papel do produtor dentro de uma cadeia industrial integrada.

A primeira grande oportunidade é o mercado garantido para a safrinha. O milho, que antes sofria com oscilações de preço, agora tem uma demanda estável e previsível. Isso reduz riscos e facilita o planejamento financeiro do produtor.

A segunda é o aumento da rentabilidade. Com maior procura, o milho tende a alcançar preços melhores, especialmente nas regiões próximas a usinas. Isso cria um incentivo para adoção de tecnologias agrícolas e aumento da produtividade por hectare.

A terceira está na integração produtiva. O produtor pode participar não só da venda de grãos, mas também do fornecimento de insumos, da logística e até de cooperativas ligadas à indústria. Essa verticalização agrega valor e amplia as fontes de receita.

Por fim, há a geração de subprodutos. O DDG é um exemplo claro de como o processo é circular: o que sobra do milho após a fermentação volta ao campo como ração de alta qualidade. Esse modelo fortalece a sinergia entre agricultura e pecuária e consolida o conceito de economia sustentável.

Relação com a sustentabilidade

A sustentabilidade é o eixo central do futuro do etanol de milho. O produto se alinha aos objetivos globais de descarbonização e tem potencial para contribuir significativamente para as metas climáticas do país.

Quando produzido de forma responsável, o etanol de milho reduz emissões e promove uso eficiente de terras já cultivadas. A análise do Insper/AgroInData indica que essa forma de produção “aumenta a oferta de energia sem comprometer a segurança alimentar”, um ponto crucial para o equilíbrio entre economia e meio ambiente.

Outro aspecto positivo está na intensificação sustentável do solo. O uso da safrinha evita a expansão de áreas agrícolas e aproveita a infraestrutura existente. Essa lógica permite produzir mais sem desmatar, um argumento cada vez mais valorizado no mercado internacional.

Por outro lado, o desafio é garantir que as boas práticas se tornem regra. A certificação ambiental, a rastreabilidade e o controle de emissões ao longo da cadeia são condições essenciais para consolidar a credibilidade do etanol de milho como combustível verde.

Desafios a superar

O caminho para o amadurecimento do setor passa por alguns obstáculos importantes.

O primeiro é a logística. Boa parte do milho brasileiro é produzida longe dos portos e centros consumidores. Isso encarece o transporte e aumenta as emissões indiretas. Investimentos em ferrovias, armazéns e infraestrutura são vitais para garantir competitividade.

O segundo é a eficiência industrial. Usinas precisam operar em escala para compensar o alto custo inicial. A adoção de tecnologia de ponta, como sistemas de reaproveitamento energético e cogeração, é fundamental para alcançar margens sustentáveis.

O terceiro é a volatilidade do mercado de grãos. O preço do milho varia com fatores climáticos e geopolíticos. Isso pode afetar a previsibilidade financeira das usinas e exigir contratos mais sofisticados de hedge e longo prazo.

O quarto está relacionado à sustentabilidade regulatória. À medida que o mundo impõe padrões ambientais mais rigorosos, o setor precisará investir em certificações e em mecanismos de comprovação de emissões. 

Isso eleva custos, mas também abre portas para mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e de baixo carbono.

Tendências e perspectivas para os próximos anos

As projeções indicam que o etanol de milho continuará crescendo rapidamente até o fim da década (e até depois). Um estudo do IRENA (International Renewable Energy Agency) prevêque 14 bilhões de litros de etanol de milho devem ser produzidos em 2034, 72% a mais do que em 2025.

Esse crescimento deve vir acompanhado de três grandes tendências:

  • Integração tecnológica: com plantas industriais cada vez mais modernas, capazes de alternar entre milho e cana conforme a safra;
  • Avanço da agricultura de precisão: que reduz custos, otimiza insumos e melhora a sustentabilidade da lavoura;
  • Valorização dos critérios ESG: já que investidores e consumidores exigem transparência sobre emissões e impacto socioambiental.

O cenário é promissor, mas competitivo. À medida que novas usinas entram em operação, o setor precisará buscar eficiência, inovação e gestão estratégica para evitar excesso de oferta e queda de preços.

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O futuro do etanol de milho

Nos próximos anos, o etanol de milho deve se firmar como um dos pilares da transição energética brasileira. Sua importância vai além do combustível: ele simboliza uma nova fase de integração entre campo, indústria e sustentabilidade.

O Brasil tem condições únicas para liderar esse movimento. Possui abundância de grãos, tecnologia agrícola consolidada e uma política energética que valoriza os biocombustíveis. Se conseguir equilibrar produtividade, responsabilidade ambiental e estabilidade regulatória, o país poderá transformar o milho em uma das maiores forças do seu desenvolvimento sustentável.

No fim das contas, o etanol de milho representa uma oportunidade de reinventar a economia rural, fortalecer o agronegócio e avançar em direção a uma matriz mais limpa, competitiva e integrada.

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