Princípio da legalidade: entenda como funciona e quais os tipos

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Escrito por Equipe TOTVS
Última atualização em 06 dezembro, 2024

No cenário jurídico, o princípio da legalidade surge como um dos pilares essenciais não apenas para a garantia da ordem, mas também para a proteção dos direitos individuais. 

Ele assegura que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei, promovendo previsibilidade e segurança jurídica na sociedade.

Contudo, o conceito não se limita ao campo jurídico: ele também permeia as relações entre cidadãos e governo, orientando decisões administrativas, legislativas e judiciais.

Neste conteúdo, vamos falar sobre o que significa esse princípio, qual a sua função, os tipos existentes e sua importância na manutenção de um sistema justo e equilibrado. 

Aproveite a leitura!

O que é o princípio da legalidade?

O princípio da legalidade é uma diretriz essencial do direito público e privado, prevista no artigo 5º da Constituição Federal, responsável por garantir que todas as ações sejam pautadas por normas legais previamente estabelecidas. 

Esse princípio define que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei. Assim, tanto indivíduos quanto autoridades públicas precisam obedecer às normas jurídicas em vigor.

Para o Estado, isso torna-se um guia que define o que pode ou não ser feito, impedindo abusos de poder. Já para o cidadão, o conceito serve como um escudo de proteção contra ações arbitrárias.

Qual a função do princípio da legalidade?

A função do princípio da legalidade é organizar a convivência social por meio de regras claras e previsíveis, que tornam-se guias para o comportamento tanto dos indivíduos quanto das instituições. 

O princípio também busca proporcionar a justiça e a equidade ao exigir que as leis sejam aplicadas uniformemente. Isso significa que, independentemente de status ou poder, todas as ações devem sujeitar-se ao mesmo conjunto de normas. 

Por isso, ele serve como base para um sistema justo, pois ajuda a limitar excessos e a promover o equilíbrio entre direitos e deveres em diferentes esferas sociais.

Quais os tipos de princípio da legalidade?

O princípio da legalidade possui variações que se aplicam de maneira distinta em diferentes áreas do direito. 

A compreensão desses diferentes princípios é essencial não apenas para profissionais da área jurídica, mas também para gestores e empreendedores que precisam operar dentro dos limites legais no dia a dia dos seus negócios.

Vamos explorar mais a fundo cada um desses tipos a seguir para entender sua aplicação prática no cotidiano, confira.

Princípio da legalidade constitucional

O princípio da legalidade constitucional está diretamente relacionado aos direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição. 

Além de proteger os cidadãos contra abusos de poder, ele orienta a elaboração de normas e a atuação de todas as instituições públicas e privadas no país. 

Empresas que operam em múltiplos estados, por exemplo, devem assegurar que suas práticas respeitem tanto a legislação local quanto a constituição federal.

Na prática, esse princípio é a base para a proteção de liberdades individuais, como o direito à vida, à propriedade e à dignidade.

Princípio da legalidade administrativa

O princípio administrativo regula a atuação dos órgãos públicos, impondo que toda decisão ou ação tomada por agentes administrativos esteja embasada na legislação vigente.

Essa vertente busca garantir eficiência e controle na gestão pública, bem como proteger os cidadãos contra arbitrariedades. 

O grande objetivo é garantir que todos os processos sejam conduzidos de maneira transparente e igualitária, prevenindo a corrupção e outras práticas antiéticas.

Um exemplo disso é a necessidade de um edital para realização de licitações, uma vez que qualquer ato fora do que está regulamentado seria considerado nulo.

Princípio da legalidade tributária

A legalidade tributária estabelece que a criação ou aumento de tributos só pode ocorrer por meio de lei. Isso garante previsibilidade e transparência aos contribuintes.

Para as empresas, esse é um ponto essencial para a gestão fiscal e tributária. 

Compreender e aplicar a legalidade tributária na prática significa ajustar sistemas de contabilidade e planejamentos fiscais que assegurem conformidade legal, o que evita multas e penalidades desnecessárias.

Por assegurar que somente normas aprovadas pelo Poder Legislativo podem impor obrigações tributárias, o princípio é um dos principais pilares contra arbitrariedades fiscais.

Princípio da legalidade penal

A legalidade penal define que nenhum ato pode ser considerado crime nem sujeito a sanção penal sem que esteja previamente definido em lei.

Este princípio assegura que os cidadãos não sejam punidos por condutas que não estavam previamente estabelecidas como criminosas.

Para os líderes empresariais, entender esse princípio é um passo fundamental ao avaliar riscos legais em suas operações, principalmente em setores mais regulamentados. 

A gestão adequada de compliance penal pode prevenir que um negócio seja surpreendido por interpretações retroativas do que constitui conduta criminosa. 

Isso não só preserva o capital financeiro da empresa, mas também resguarda sua reputação e integridade no mercado.

O princípio da legalidade assegura que as ações públicas estejam subordinadas à lei, enquanto a reserva legal reforça a necessidade de uma lei específica para regular temas sensíveis.

Embora frequentemente usados em conjunto, os termos não são sinônimos e apresentam diferenças conceituais importantes. 

O princípio da legalidade é mais amplo e estabelece que toda atuação do poder público deve estar fundamentada em lei. Como vimos anteriormente, ele garante que as ações do Estado sejam limitadas e controladas, respeitando o ordenamento jurídico.

Já a reserva legal é um desdobramento desse princípio e determina que certas matérias só podem ser reguladas por lei formal, ou seja, aprovada pelo Legislativo. 

Isso inclui questões como criação de tributos, definição de crimes e penas, ou restrição de direitos fundamentais.

Dessa forma, as duas definições se relacionam e atuam como pilares da segurança jurídica.

No universo corporativo, a distinção desses conceitos é fundamental em áreas como a regulação ambiental ou direitos trabalhistas, nas quais qualquer alteração nas normas só pode ser implementada mediante legislação específica.

Quais as exceções ao princípio da legalidade?

Embora o princípio da legalidade seja uma regra de alta importância, existem situações excepcionais em que ele pode ser flexibilizado, geralmente em situações de emergência ou quando autorizado pela própria Constituição. 

Essas exceções são necessárias para garantir a funcionalidade do Estado e a proteção de direitos em cenários excepcionais. As principais são:

  • Estado de defesa e estado de sítio: durante crises graves, o Executivo pode tomar medidas excepcionais, como restrições de direitos, desde que dentro dos limites legais;
  • Medidas provisórias: permitem ao Presidente da República adotar normas com força de lei em situações de urgência e relevância, sujeitas à aprovação do Congresso;
  • Sanções administrativas: em alguns casos, atos administrativos podem ser realizados sem lei específica, desde que sejam indispensáveis para proteger o interesse público;
  • Tributos extrafiscais: alguns tributos, como o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), podem ter suas alíquotas alteradas por decreto, sem aprovação legislativa prévia.

Vale destacar que as exceções são regulamentadas para evitar abusos e garantir que o princípio continue prevalecendo como norma geral.

Qual a diferença entre legalidade restrita e legalidade ampla?

O conceito de legalidade restrita implica uma aplicação estritamente técnica da lei, com as normas seguidas à risca, enquanto a legalidade ampla, como o nome sugere, permite uma interpretação mais flexível das regras.

Enquanto a legalidade restrita fala sobre uma aplicação mais estrita e literal do princípio, a legalidade ampla não apenas a lei em sentido formal, mas também regulamentos, decretos e outros atos normativos.

Essa distinção permite adaptar o princípio às necessidades práticas e jurídicas, definindo como a lei pode ser aplicada de maneira mais ou menos flexível em diversas situações.

A legalidade restrita, por exemplo, é bastante comum em contextos em que a precisão e a previsibilidade são essenciais, como em áreas de contabilidade fiscal ou auditorias. É um conceito aplicado em áreas como o direito administrativo.

Já a legalidade ampla é útil em situações moldadas por um ambiente mais dinâmico, que exige respostas adaptáveis, como na gestão de equipes inovadoras, em que a criatividade e a adaptação são incentivadas.

No contexto jurídico, ela pode ser utilizada para a interpretação de políticas públicas. 

Exemplos do princípio da legalidade

O princípio influencia tanto as operações empresariais quanto a vida dos cidadãos. Por isso, ao entendê-lo e aplicá-lo, empresas não apenas asseguram a conformidade, mas também fomentam um ambiente de negócios mais íntegro e confiável.

Para entender como o conceito se manifesta em práticas cotidianas, separamos dois exemplos para compartilhar com você. Confira a seguir.

1. Implementação da Lei Geral de Proteção de Dados

Um exemplo claro do princípio da legalidade em ação é a implementação de leis de proteção de dados, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil.

Empresas devem assegurar que suas práticas de coleta, armazenamento e processamento de dados estejam em total conformidade com as normas estabelecidas para garantir aos clientes que seus dados pessoais estão preservados e seguros.

Imagine que uma pequena empresa de comércio eletrônico coleta dados dos seus clientes para enviar promoções personalizadas. 

Em vez de apenas coletar essas informações, a empresa deve fornecer aos consumidores clareza sobre como os dados serão usados e obter consentimento explícito para essa utilização.

Isso não apenas mantém a conformidade legal, mas também constrói uma relação de confiança com o consumidor.

2. Regulação de medicamentos

Outro exemplo significativo é a regulação de medicamentos por agências governamentais: qualquer novo medicamento deve passar por rigorosos testes e obter a aprovação antes de ser comercializado. 

Para as empresas farmacêuticas, isso significa um compromisso contínuo com a pesquisa científica e a conformidade regulatória. Já para os consumidores, o processo garante que os medicamentos disponíveis são eficazes e seguros.

É um passo essencial para proteger a saúde pública. 

3. Criminalização de delitos cibernéticos

Como vimos, no direito penal, o princípio  garante que uma pessoa só pode ser punida por uma conduta previamente descrita como crime na lei. Um exemplo disso é a criminalização de delitos cibernéticos, que geram grandes prejuízos para as empresas.

Segundo dados do Instituto Nacional de Combate ao Cibercrime, a expectativa é que o custo anual de empresas com cibercrimes alcance o marco de US$10,5 trilhões até 2050 a nível mundial. 

Antes de leis específicas serem criadas, como o Marco Civil da Internet ou a Lei de Crimes Cibernéticos no Brasil, atos como invasão de sistemas ou violação de dados não eram considerados crimes, o que tornava o processo ainda mais danoso. 

Após a promulgação dessas leis, tais condutas passaram a ser puníveis. No entanto, o princípio garante que ninguém pode ser responsabilizado por uma infração ou um ataque cibernético cometido antes da criminalização prevista pela legislação.

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Manter a conformidade legal e garantir uma boa gestão jurídica é essencial para qualquer empresa, tanto para evitar penalidades, como para fortalecer a confiança com os consumidores e garantir uma boa reputação no mercado.

Nesse contexto, o Software Jurídico da TOTVS chega com tecnologia completa para atender departamentos jurídicos e escritórios de advocacia, que atuam diariamente com os princípios de legalidade. 

O sistema foi desenvolvido para auxiliar na automação de processos e otimizar todo o administrativo da sua empresa. 

Para isso, oferece funcionalidades como gestão de documentos, acompanhamento de desempenho e resultados, controle de minutas, contratos e procurações, além de gestão financeira, automação dos processos de cobrança de honorários e muito mais para escritórios de advocacia. 

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Conclusão

Como vimos ao longo deste conteúdo, o princípio da legalidade é essencial para garantir a segurança jurídica e a proteção contra arbitrariedades, funcionando como uma base para a aplicação das leis.

Ele não apenas assegura a ordem jurídica, mas também oferece proteção e segurança para cidadãos e negócios. Com isso, contribui diretamente para uma economia mais estável. 

Apesar de sua aplicação ser abrangente, é importante compreender suas exceções e distinções para agir em conformidade com a lei, prevenir conflitos e consolidar um negócio sustentável.

Isso porque, ao conhecer o princípio e os conceitos relacionados a ele, você pode tomar decisões mais informadas e proteger seus negócios de riscos legais.

Para manter a conformidade no seu negócio, confira também o nosso conteúdo com dicas sobre como coletar e armazenar dados do cliente com segurança.

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